Cartas para você (VII)



VII

“Dunquerque, França, 30 de maio de 1940.


Querida Annie,

Nossas tropas foram encurraladas. Os nazistas dominaram todo o país e estão bombardeando as cidades francesas, vários soldados se feriram e já sofremos algumas emboscadas dos nazistas. Annie, tive que matá-lo, não tive escolha, que sua família me perdoe, mas tive que fazer aquilo. Nunca tiraria a vida de um jovem, era um garoto tão cheio de vida, provavelmente teria uns 16 anos de idade, mas eu não tive escolha, jurei que nunca mataria alguém mas essa promessa no meio de uma guerra é impossível de ser cumprida, eu não tive escolha Annie, eu não posso morrer, não agora quando estou tão perto de casa.

Ele apontou uma velha e enferrujada carabina para mim, mirando de longe a minha cabeça. Suas mãos tremiam, provavelmente nunca tivera segurado uma arma de verdade; estava tenso e suava bastante, então ele apertou o gatilho... A arma não disparou, estava sem balas. Foi tempo suficiente para que eu pudesse sacar meu revólver e disparar-lhe uma bala no meio da franzina testa. Ele então caiu sem vida no meio dos destroços que restaram dos bombardeios. Olhando para mim, seus olhos me encaravam de um modo sombrio, a lembrança deles me atormenta a alma. Não quero lembrar! Não quero carregar a culpa de uma morte Annie, não quero carregar isso por toda a vida. Estão mandando nossos resgastes, mas minha alma, esta nunca mais será resgatada, esta se corrompeu com o sangue de alguém aqui, nesta cidade destruída; a alma de um escritor hoje descreve como é matar alguém, tentando passar para o papel a sensação de estar perdido, tentando transcrever a sensação de culpa. Uma família chorará mais uma perda e eu fui o responsável por isso. Será que algum dia eles saberão que o assassino de seu filho hoje escreve uma carta detalhando seu sentimento para uma garota de Londres? As mesmas mãos que te escrevem estão sujas de sangue, estas mesmas que um dia já tocaram teu sedoso cabelo nunca mais terão a honra de tocá-lo, nunca mais...

Oh Annie! Como eu gostaria que tudo isto fosse apenas mais um pesadelo. Aqueles pesadelos tão reais que te fazem querer acordar o mais rápido possível, sem sucesso. Aqueles pesadelos que te arrepiam a pele e te fazem querer chorar toda vez que se lembra deles. Eu desejo acordar agora, eu desejo acordar deste maldito pesadelo!

Estão mandando nosso resgate, pediram para que ficássemos perto da costa e que evitássemos se separar da maioria. Há um grande número de soldados aqui, alguns resgates já foram providenciados mas a minha vez ainda não chegou. Irão nos mandar de volta para a Inglaterra e de lá não sei mais o que farão, provavelmente retornaremos para o campo de batalha. Gostaria de rever você; gostaria de ter a certeza que está lendo esta carta. Fique longe de Londres neste momento, as ameaças de bombardeio ainda são constantes e eu não tenho a menor dúvida que acontecerá em breve. Proteja-se Annie, fique longe deste pesadelo, você não vai querer ver as mesmas coisas que eu vi. Fique bem Annie...

Com medo, John..."

Olá, seja muito bem vindo ao Datilografando!

- Comentem algo relativo ao post, prometo que assim que tiver tempo irei retribuir a todos. Fora de tópico Mostrar Código Esconder Código Mostrar EmoticonEsconder Emoticon

Obrigado pelo seu comentário