Cartas para você (parte 3)


Querida Annie,

Estou mais uma vez aqui, te escrevendo, a diferença é que larguei um pouco do whisky; consegui entrar para o exército americano, estou um pouco feliz (não muito, pois a extrema felicidade creio que jamais poderei alcançar), além de que aqui eles não permitem bebidas nem cigarros (meus pulmões agradecem), mas eu sempre dou um jeito de conseguir com alguns amigos daqui (eles sabem de você), é de um jeito ilícito mas é por uma boa causa, eu espero.
Bom, acho que não tenho muitas novidades desde a última carta que te enviei (espero que tenha lido). Talvez a grande novidade seja que eles vão nos mandar para o Iraque, bom, eu acho que seria uma aventura perigosa mas como alistei tenho que aceitar o que eles me mandam fazer.
Ao chegar não fui bem recebido pelos veteranos, acho que eles não queriam conversa comigo; fomos divididos em equipes e conversei com alguns novatos, eles eram legais, fiquei na equipe deles.
Os treinamentos são durante a noite, são bem pesados mas acho que consigo dar conta do recado. Eles dizem que devemos enfrentar os treinamentos como se estivéssemos no Iraque, bom, eu acho isso impossível, pelas histórias que circulam da boca dos veteranos eles dizem que lá é muito diferente dos treinamentos aqui, você tem que estar ligado a 1000 por hora. Bom, conheça minha equipe:

Eles quem me acolheram quando cheguei aqui, eles quem me ensinaram a postura diante dos generais e me ensinaram algumas coisas aqui de dentro também, mas creio que ainda tenho muita coisa para aprender aqui. Mais alguns treinamentos e acho que estarei preparado para tentar encarar um novo lugar, pessoas com opiniões diferentes, pessoas com medo que alguma pessoa tente se explodir e matar as outras ao seu redor; acho que não tenho preparo psicológico para ajudar pessoas com um psicológico mais abalado que o meu. E se alguém explodir a família de alguém na minha frente? Não conseguiria dizer a um pai que seus filhos foram mortos por um homem bomba e que não sobrara nem um pedaço seu para o enterro. Tenho medo de ver outras pessoas sofrerem, estou cansado de sofrimento emocional. Elas vão sentir a mesma coisa que eu sinto, uma falta de alguém que elas sabem que nunca mais irá voltar. Eu não gostaria de ver isso, mas agora é tarde demais para desistir de tudo.
Ouvi boatos que nos mandarão em breve para o oriente, sinceramente, não me acho capacitado tanto fisicamente quanto psicologicamente para isto, mas você me conhece, quando embarco em algo eu insisto nisso até o fim. Me alistei por vontade própria então tenho que fazer o que sou mandado a fazer.
Aqui é bem solitário, dormimos em camas com colchões bem duros, sem travesseiros nem cobertas, não se compara nem um pouco com o conforto de casa; fora que eu tenho que aturar os soldados que roncam, é quase impossível dormir nessas condições.
Mas chega de falar de mim. Como você está? nunca retornou nenhuma de minhas cartas, estou preocupado, espero que você esteja lendo ou que pelo menos elas estão chegando e que logo você as lerá e responderá. Desculpe, eu sempre tenho essa mania de criar algumas esperanças mesmo que estas sejam um pouco difíceis de acontecer; ainda tenho esperanças que um dia você me responda ao menos para dizer que está bem ou que sua vida está seguindo muito bem sem mim, ou que talvez depois de mim já esteve com outras pessoas mas nunca sentiu o mesmo sentimento que um dia teve por esta pessoa que agora escreve, ou que pelo menos tentou seguir a vida mas que ainda sente algo por mim e por isso resolveu me responder; bom, eu fico a pensar nestas coisas antes de dormir, fico a pensar em você, se algum dia irá me responder, se ainda sente todo aquele amor que um dia disse que sentia! Acho que estou te cobrando muito mas me entenda, estou apenas te cobrando aquilo que você prometeu que seria eterno, aquele amor que nunca iria se acabar, aquela felicidade que só estaria completa comigo...
Eu sei, as coisas mudam, mas é que eu simplesmente não consigo aceitar! Como que um sentimento tão puro e verdadeiro se torna algo tão frio?
Este é o problema, ter que aceitar que você partiu para nunca mais voltar, meu coração se recusa a te apagar de lá, minha mente se recusa a parar de pensar em você e eu continuo bebendo e te escrevendo e assim a vida vai seguindo (ou sendo forçada a seguir).
Eu não guardo mágoas de você, nem tristeza nem ódio, apenas fico triste com o amor por estar fazendo isso comigo, creio que não sou merecedor deste sofrimento imenso por mais ruim que eu tenha sido em tempos passados; não vejo motivo para merecer isso tudo (isso pode ter sido um pouco orgulhoso mas fui sincero).
Eu queria, pelo menos ter uma chance de concertar as coisas, não do meu jeito mas do nosso jeito, queria ter a chance de colocar cada coisa em seu lugar e por um fim nessa minha dor em demasia.
Para finalizar gostaria de pedir que respondesse esta carta, queria ao menos saber como anda sua vida depois da minha passagem, se alguém já se apropriou de seu coração! se alguém já te fez sorrir como eu fazia! bom, espero que sua vida esteja seguindo bem e que consigas aquela promoção de emprego que me falou que estava prestes a conseguir (sim, eu lembro).
Agora tenho que ir dormir, amanhã teremos mais alguns treinos  depois será uma longa viagem rumo ao Iraque, estou um pouco ansioso e com medo também, mas creio que ao final tudo dará certo.

Com afeto, John.

Olá, seja muito bem vindo ao Datilografando!

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