Cartas para você (parte 2)


Querida Annie,

Acho que estou me tornando um alcoólatra, não que eu me preocupe com isso, mas talvez me tornar isso seja o único meio que me dá coragem de te escrever. Eu sei que isto não é motivo de orgulho, muito menos me enalteço por tal coisa, muito pelo contrário, sinto muita vergonha em fazer isto mas creio ser o único método no qual eu possa escrever isto que agora você lê (espero).
Acho que a solidão me faz escrever estas cartas; não tenho com quem compartilhar isso então você foi a escolhida para ler sobre o que acontece na minha rotina sem você, logo você.
Bom não sei o que você anda fazendo na sua rotina, mas minha vida anda seguindo. Entrei em uma acadêmia, comprei alguns livros de romance bem melosos (daqueles que você gostava, em que a donzela morria no final), meus amigos me convidam para algumas festas mas você sabe como sou caseiro, eu nunca fui o tipo de pessoa que gostava de sair e ir paras festas mas você conhece meus amigos; o poder de persuasão deles sempre funciona comigo. Fora isso também resolvi me alistar no exército, acho que chegou a hora de me aventurar um pouco e essa nova experiência irá ser boa para mim, preciso me distrair pra não pensar muito em você, você sabe...
Aliás comprei também aquele disco do Elvis Presley que eu e você ouvíamos nas tardes em que ia te ver, alguns filmes para que o tempo passe mais rápido; esses últimos dias parecem meses e os meses parecem anos. Tudo passa tão lentamente... Não sabia que tudo ficaria tao difícil a cada dia, parece que por mais que eu tente não consigo te tirar da cabeça, como se estivesse marcada em mim. Mas você sabe que eu nunca estarei 100% capaz de seguir em frente nessa caminhada longe de você. É que é muito difícil seguir em frente quando dentro de você está tudo dilacerado. É doloroso aceitar que as coisas não são mais do jeito que eu queria (quer dizer, que a gente queria) e que agora sou apenas mais um alcoólatra em uma mesa de bar te escrevendo algo que não teria coragem de falar se estivesse sóbrio.
Dói ver que tudo aquilo não vale mais nada atualmente, que você não é mais o meu mundo. Eu me pego pensando em você antes de dormir, pensando no quanto éramos felizes e no quanto eu fui babaca em te deixar partir; o fim é sempre assim, doloroso, triste, alguém sempre vai se machucar, um coração sempre vai ser partido.
Será que era pra ser assim? Então isso é o fim de tudo? Todas aquelas promessas foram em vão? O que faremos agora?
São tantas perguntas, tantos sentimentos em minha mente que acho que estou ficando maluco, que triste fim... Ficar maluco, talvez seja efeito do whisky.
Estas garrafas são minha única salvação, meu único meio de falar com você, no momento são tudo o que eu tenho, mas elas acabam, eu fico sozinho de novo. Talvez seja questão de medo; o medo de ficar sozinho me consome; meus amigos me pediram para ir para a igreja mas você me conhece, eu nunca fui adepto de nenhuma religião por ser alguém altamente crente da razão e da ciência. E se Deus realmente existir o que ele iria querer com alguém que não tem nada a oferecer a não ser garrafas vazias de whisky?
Qual o propósito em minha vida?
Talvez eles tenham razão, talvez eu esteja realmente me afogando em uma profunda depressão e tento disfarçar isso bebendo.
Se ao menos eu tivesse uma oportunidade de voltar e mudar minhas atitudes eu não te perderia assim tão fácil, alguém precisa avisar para aquele babaca de alguns tempos atrás que ele tem o amor da vida dele ao seu lado e que se ele continuar assim irá perdê-la.
Me desculpe se tive que te perder para depois te dar o devido valor; por que as pessoas são assim?
Por que eu fui assim? Eu queria tanto estar contigo agora mas tenho que continuar essa jornada que já não sei se é vida; eu não tenho outra escolha.
A vida me deu um belo golpe, eu deixei todo o meu mundo escapar entre os meus dedos e fiquei apenas observando você ir embora sem olhar para trás; sem olhar para mim...
Eu simplesmente não me acostumei com esse vazio dentro de mim, não me acostumei com essa ideia de que te perdi, não me acostumei com o fato de não ser feliz sem você, acho que nunca me acostumarei, por isso te escrevo; te escrevo para me sentir bem, te escrevo para poder ter chances ainda de ser feliz e não desejar me atirar do sétimo andar deste prédio, te escrevo para que esta depressão não me consuma por inteiro, por isso te escrevo, por isso compartilho minha dor com você; espero que algum dia entenda.
Estou indo dormir, amanhã é o dia de me alistar e preciso acordar cedo, preciso descansar, não vai ser uma noite fácil já que nunca durmo sem pensar em você...

Com carinho... John.

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