O verdadeiro sentido da vida


Estava sentado numa cadeira de balanço, na varanda, enquanto acendia meu charuto e lembrava das coisas boas que tinha vivido minha neta chegou e sentou-se no chão. Era uma dessas crianças brincalhonas e também cheias de perguntas sobre a vida e sobre o que estaria por vir mais á frente.
Com uma fisionomia aparentando um ar de tristeza ela me perguntou:
— Vovô, para onde iremos depois disso tudo?
— Disso o quê querida? — perguntei já sabendo ao quê se referia.
— Depois da vida, o que nos espera?
— Cada coisa tem seu tempo querida, essa é a parte boa, pode ser algo novo para ser vivido, não querem estragar a surpresa...
— A vovó deve ter gostado, ela nunca mais voltou.
— Creio que voltar não seja uma escolha, temos tanto tempo para estar com quem amamos, família, amigos, fazer o que queremos, que ao final da jornada apenas agradecemos por termos vivido tudo aquilo, então partimos para algum lugar, é tudo uma questão de acreditar.
— E se eu não souber no que acreditar?
— Faça o que seu coração achar melhor, deixe-o aberto para viver, seja feliz, é só o começo para você, não se preocupe com estas coisas.
— Então qual o sentido de viver se no final todos morremos?
— Essa é a graça da história. Não temos que ter um sentido para viver, devemos simplesmente viver. Sempre que cumprimos um sonho temos milhares para concretizar. A única coisa que no final fará sentido é o de viver. Aquele emprego desejado, o carro dos sonhos, a mansão tão cobiçada... No final quem deu importância para isso durante toda a vida é quem mais se arrepende, se arrepende por nunca ter parado um dia para estar com sua família, se arrependem por não abrirem mão de um domingo sequer para olhar para o que realmente interessa.
— O senhor trabalhou muito vovô — perguntou.
— Sim, todos os dias.
— E a sua família?
— Eu nunca dei atenção, depois que sua avó partiu eu já era aposentado mas mesmo assim preferia ficar em casa assistindo TV a sair com ela para jantar em algum restaurante, ela gostava de sair para jantar. Espero reencontrá-la algum dia caso haja algo além da vida.
— Então você vai ser o tipo de pessoa que se arrepende no final?
— Sim...
— A morte é tão insensata, leva as pessoas assim sem mais nem menos, sem dar nenhuma satisfação.
— Ela está apenas fazendo seu trabalho, se não fosse a morte as pessoas nunca iriam valorizar as pessoas que tem ao seu lado. Imagine uma vida sem fim. As pessoas só seriam mais e mais egocêntricas. Ninguém aprenderia o verdadeiro valor de viver.
— Tem razão, o senhor quer ir ao parque?
— Sim, vamos, eu pago. — Me levantei disposto a viver os poucos restos de vida que ainda tinha; para poder matar um pouco esse arrependimento de nunca ter vivido nada intensamente nem dado o devido valor às verdadeiras coisas.

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